Um dia na Zambujeira do Mar

Fui esta Sexta-Feira à Zambujeira do Mar, ao festival com qual menos me identifico. Foi só pisar aquela terra para me sentir logo fora do meu habitat. Não foi pela vila, que até acho bastante bonita e simpática, mas sim pelas pessoas que frequentam o Sudoeste nestes últimos anos, pelo menos desde que a TMN se embrulhou com aquilo. A Zambujeira do Mar recebe, nestes últimos Agostos, os meninos e meninas pré-adolescentes e adolescentes com o grelos aos saltos, alguns deles com mais idade mas ainda na fase do armário (não sou eu aqui a mandar vir para o ar, eu próprio vi), e que aproveitam o Sudoeste para fugirem dos progenitores e acharem-se bué independentes, importantes, rebeldes e donos-do-seu-nariz (yo!).

Sendo assim, e já sabendo eu disso mesmo nunca lá tendo ido, a organização confirma Eddie Vedder... Primeiro, o que é que o Eddie Vedder faz no meio de tanta merda junta? Segundo, será que o meu gosto pessoal é igual ao tipo de pessoas que frequentam SW's e que mamam Davids Guettas, Pop manhosa e anti-natura, e House foleira? Terceiro, não podiam ter posto, pelos menos, os Orelha Negra no mesmo dia (e The Roots, já agora)? Quarto, esses nomes que acabei de referir também são audíveis para a betalhada e Chungaria toda que respiram em massa por aqueles lados durante essa semana?

O mais engraçado, é que mesmo no meio da vila, encontrei uma feira de artesanato, maioritariamente de feirantes... hippies. wtf? Eu identifico-me um pouco com eles, e fiquei completamente parvo por ver eles ali. Não sei se é costume eles estarem lá em todas as edições do SW, ou se lá estão sempre mesmo quando não há festival, mas não encaixa, são mundos completamente diferentes e paralelos! Ainda por cima quando, na mesma altura, está a decorrer o maior festival alternativo do Mundo, o Boom, festival esse que contava com a minha presença, caso o Sr. Eddie não nos viesse fazer uma visita a este jardim à beira mar plantado! Até porque o ambiente daquilo é completamente o oposto ao ambiente e ao conceito que é ser-se hippie e o que é andar nessas andanças. Ou então sou eu que estou há uns bons anos enganado.

Como era óbvio, e como as portas do recinto só abriam ao fim do dia, tive que me afastar daquilo e ir tentar encontrar outros ares, de preferência mais naturais e puros. E foi o que me safou. Saí da vila, pela mesma estrada que entrou o autocarro que me levou, e senti-me logo em casa quando descobri as falésias da Zambujeira do Mar. Aquilo é lindo, o azul do mar é de uma cor rara, nunca antes documentada, facto que torna a paisagem ainda mais bonita e relaxante, de quem olha de cima. Eram umas três e meia da tarde quando encontrei o local, e a verdade é que eram já quase oito quando olhei para as horas. O que fiz durante esse tempo não sei, só me lembro de observar o mar e a beleza daquilo, de andar pela(s) falésia(s) de um lado para o outro para descobrir e aproveitar todos os ângulos, de comer, de pegar num livro durante segundos e de o arrumar logo de seguida por achar o lugar bonito demais para ler, e de tirar fotografias.

Despedi-me do local, e lá fui eu apanhar o autocarro para o recinto, até porque já era tarde. Os autocarros para a Herdade da Casa Branca eram gratuitos até a uma certa hora, e apartir dessa hora tinhamos que arrotar com 2€. Na boa, mas se eu soubesse, e como forreta que sou, bem que tinha visitado o mar e as gaivotas mais rapidamente, 2€ já dá para uma cerveja no recinto.

Cheguei ao recinto, adorei a facilidade da entrada, nada de revistas intensas, nada de staff a dar com um pau, e de filas grandes (a hora ajudou), foi talvez o festival menos difícil de entrar.

Ainda deu para assistir um bocado ao concerto dos Urbanvibsz no palco secundário. Fui para o palco principal a pensar que metade dos concertos já tinham acontecido, mas ainda vi Richie Campbell do princípio ao fim, James Morrison do princípio ao fim, e o grande Eddie Vedder, que foi quem me fez passar o dia numa vila que desconhecia por completo.

Tudo bons concertos, e o dia, vendo bem, até foi suficientemente coerente no cartaz, coisa rara neste cocó de festival.

Eddie Vedder foi único.
Felizmente, posso dizer que tenho uma boa bagagem de concertos e de estrada, e este concerto foi sem dúvida, dos mais intimistas, frontais e simpáticos que já tive a oportunidade de assistir. Só o facto de ele fazer questão de se comunicar connosco na nossa língua demonstra totalmente a entrega ao público. O homem é único, faz música com a alma, tem uma voz encantadora que arrepia qualquer um, tem uma presença em palco raríssima, tendo em conta o tipo de música que apresenta. Só boas palavras que posso dizer do(s) concerto(s), e do dia.

Depois do concerto, foi simples: Taxi, Vila, Beira Mar, Isqueiro, Ganza, Dormir, Frio, Estação dos Autocarros, Dormir, Frio, Tentar Dormir, Frio, Dormir, 6 da manhã, Tentar Dormir, 7 da manhã, Comprar Bilhete, Croissant, 8 da manhã, Waiting, Autocarro, Sentido Lisboa, Casa, Dormir, Praia.

Para a próxima vejam lá ontem metem o Eddie Vedder.

Mas tudo vale(u) a pena, e isso é o mais importante.



Sem comentários:

Enviar um comentário